sexta-feira, 27 de março de 2009

LEMBRANÇAS

Ontem andei revirando gavetas, vasculhando o passado, cutucando memórias.
Encontrei um álbum antigo, fotografias amareladas, em preto e branco, tão descoloridas que parecia sépia. Saudade.
Ah! Saudade é a única palavra capaz de descrever o sentimento contido. Aquela foto de infância... passou, não volta mais, muito embora digam que estou quase criança novamente.
Cada página de papelão verde com uma folha de papel seda – para proteger as fotos - conta um momento da minha história.
Vamos olhá-las juntas.
Esta primeira, é a foto do meu batismo, devia ter um pouco menos de dois anos. Nela estão papai, um negro alto, elegante, bonito, vistoso, industrioso, “um pão”! Mamãe, a negra mais linda que já vi, carinhosa, inteligente, amiga e companheira, sempre usava os cabelos presos num coque, muito elegante, um favo de mel. Apenas José de Alencar adjetivaria melhor dona Josefa, minha mãe.Também estão na foto, minha madrinha, D. Quitéria e meu padrinho, tio João.
Essas seguintes, são comemorações em família, sempre unidos e assim nos fortalecendo, ao redor da mesa da cozinha, principalmente.
Esta aqui, minha amiga, foi de um natal maravilhoso, tinha 10 anos, ganhei minha boneca de cordas, linda! Ganhei também uma boneca de pano com olhos brilhantes como duas jabuticabas. Nessa idade tudo é bom, não temos preocupações; embora fosse um período difícil, pós II Guerra Mundial, tantas privações, principalmente para os negros, muita discriminação, preconceito.
Meu pai, meu grande educador, deu instrução a todos os filhos e filhas, eu sou a primogênita de oito irmãos. Nosso maior aprendizado foi no lar, papai nos dizia: “Não esqueça quem é você, levante a cabeça, olhe nos olhos, olhe para trás e então verás a força dos teus”. Demorei para entender a lição ensinada por ele.
Revendo fotos, sempre olho para trás e vejo os meus que se foram, que lutaram, resistiram as adversidades e as crueldades cometidas contra eles; por causa deles, hoje sei quem sou eu.
Falando neles, este é vovô, já estava velhinho e, como sempre, vestido em seu terno branco. Nasceu livre, mas presenciou atrocidades num engenho aqui próximo.
É, Rosa, minha amiga, muita historia. Rever fotografias é revirar o passado, revolver emoções, libertar-se.
O bom de poder observar quem fomos um dia, quem somos hoje e o percurso, é justamente a possibilidade de nos conhecer e saber quem podemos ser no futuro e, jamais, esquecer dos nossos ancestrais que abriram caminho e nos deram licença para trilhar por eles fazendo nossa própria caminhada e continuando a nossa historia. AXÉ!

Carlinha Maynart

Nenhum comentário:

Postar um comentário